A Bicicleta...

 A bicicleta pra mim é como se fosse um instrumento musical afinado com os sons provocados pela natureza, pois me proporciona a rara percepção de ouvi-los em toda sua plenitude quando passo pedalá-la por caminhos diversos. Faz-me ouvir os cantos dos pássaros canoros trinando suas ricas partituras, o silvo nervoso da brisa a bater nas folhas das árvores, a mesma que me lacrimeja os olhos, não de tristeza, mas de alegria por simplesmente estar ali...
 Faz-me ouvir os sons alegres e descontraídos provocados pelos folguedos e pelas algazarras da piazzada nas trilhas e nas estradas pro onde pedalo, me dita o ritmo dos pedais a melodia da brisa em meus ouvidos em tons agudos, por vezes muitos agudos, mas sempre agradáveis, faz-me contemplar sons mudos-porém acústicos para minha alma.
 Dos gestos das pessoas que saúdam em minha passagem pelas cidades,vila e vilarejos onde moram com seus sorrisos melodiosos mostrando alvos dentes como se teclas de piano fossem, faz-me o coração rufar das corredeiras em minhas passagens como se tambores fossem a cadenciar o ritmo das minhas pedaladas.
 Faz-me sentir a musicalidade do tamborilar das rodas ao passar nos pontilhões e pinguelas de tábuas.Ao pedalar ao lado da linha férrea e a passagem da Maria Fumaça,me faz viajar ao passado imaginando os passageiros com as roupas tipica daquela época indo e vindo em encontro e desencontros...
 Agora como se aquarela fosse, a bicicleta me dá o prazer de assistir com os olhos, com a alma e com o coração todo o esplendor das obras do Criador, suas verdes matas, suas árvores, flores, pedras, cascatas, riachos, montanhas... É muito difícil pedala sozinho, há sempre um conivente amigo a me surpreender em uma esquina. A bicicleta é uma pintura não abstrata que mostra a beleza da união dos povos com simplicidade ímpar em todos os sentidos, isenta de credos, ideologias ou raças.
 Ela é poliglota, não existe fronteiras para ela. Com a bicicleta me torno confessor ao mesmo tempo que ouço pecados dos companheiros. Sou réu e ao mesmo tempo o acusador,no bom sentido. Torno-me até um pastor ao indicar bons caminhos e boas trilhas para os amigos.
 Por vezes sinto frio a bater no meu rosto e peito,mas o calor humano dos companheiros me compensa. Por vezes o cansaço me surpreende, mas o depois com os amigos me conforta. Por vezes tenho dores pelo esforço, mas os sorrisos das alegrias das companhias a minha volta as massageiam e elas somem.
 Bicleta, a companheira de todas as horas. A amiga silenciosa, fiel e confidente, ela não provoca intrigas e nem ciúme, é perfídia da amizade e da paz. Ela é o cansaço do corpo, mas é o conforto da mente. A bicicleta é com certeza um instrumento de rara musicalidade natural.
Experimente ouvi-la uma única vez e você se encantará e jamais deixará de escuta-la, sem exagero é uma cítara verdadeira sobre duas rodas. Ela faz a música de amigos, de pendores e por que não dizer sem exageros, de muitos amores.
A magrela, um apelido carinhoso, me apascenta a alma e o coração.......

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